segunda-feira, novembro 28, 2005

Canta, Pardalito

Que canção é essa, pequeno Pardal?
Que te escorre pela face, moldando-a
Entristece-te as feições, a melodia...

Anima-te, triste Pardalito
Canta antes a tua melodia
Chilreia as gotas da tua teimosia
Canta sem nexo, se assim sonhares
Mistura a linha com o borrão
Sai da pauta, alegre Pardalito
Reescreve as memórias já caducas
Cansadas das mesmas vestes de mofo
Sacode-as, sem temor, do teu encanto

Só assim saberás, jovem Pardalito
Que canção te forçaram no berço
Só tapando a luz da Lua pálida
Se sente a falta que ela faz
Só na dúvida, jovem Pardalito
Terás certeza da pauta que escolheste

Gonçalo Taipa Teixeira
28 de Fevereiro de 1999

quinta-feira, novembro 24, 2005

The smile that betrayed an angel

Eyes probing my soul,
Lips exposing my lust
Nesting ivory, taunting me.
A coward’s attack,
Her hair awakes me.
My merciless courage
Is not enough, sadly I sit,
As her body, making a landscape,
Escapes from me…

Gonçalo Taipa Teixeira
16 de Julho de 2005

terça-feira, novembro 22, 2005

Acordar

Desço fundo nesta brisa carregada;
Leva-me o vento que Hades exala.
Quieto, inerte, rendido ao Sol,
Ao quieto desabrochar deste Inferno
Que o meu tempo engole, passivo.
Desço a pique, quero renascer,
Chamar-me Fénix e voar sob o Sol,
Mas a Lua não me leva, provoca-me.

Soterrado em estrelas alheias
Adormeço, sonâmbulo, sem sonhos.
Sou um estranho no meu destino,
No qual viajo aos empurrões.
O Mundo não me guardou lugar
E o meu coração é negro:
Sou uma sombra do meio-dia;
Encurtaram-me as asas geniais
Sou só um monte de rédeas banais.
Vou talvez dormir, a ver se acordo...

Gonçalo Taipa Teixeira
16 de Março de 2004

domingo, novembro 20, 2005

Talvez nunca

Queria eu saber o que esperas de ti.
Não sabes? Pelos vistos não interessa;
Não interessa o que sonhas, interessa só o que mostras;
Mas o Sol não é só o candeeiro diurno:
Antes uma gigantesca tocha
Que te autoriza a viver!

Gonçalo Taipa Teixeira
Porto, 18 de Abril de 2002

quinta-feira, novembro 17, 2005

Quero viver

Levem-me daqui, ideias esvoaçantes, pensamentos errantes que não sabem onde pousar. Levem-me, mas para bem longe do conformismo em que vivo, da pasmaceira em que fervo...
Quebrem-se as rédeas deste sonho controlado, quero um sonho tresloucado, sem nenhuns ideais, só pensamentos banais.
Lavem-me, lágrimas, deste pó inerte, que em vão me adverte, para me manter na rotina, um tédio de disciplina que mata lentamente e tortura duramente.
Salve-me quem puder, por que eu já morri, quero agora viver.

Gonçalo Taipa Teixeira
11 de Setembro de 1997

quarta-feira, novembro 16, 2005

À espera

Atraente, essa mulher
Que me persegue desde o início;
Desde o primeiro passo que dei
No caminho que agora piso.
Segue-me de perto, essa mulher,
Com a alva nudez de luto vestida.
Lança-me olhares faíscantes,
Seduz-me as fraquezas.
Olho-a nos olhos,
Percorro-lhe as curvas
Àvidas de amante.
O meu peito treme
Quando os seus olhos me fixam;
Afasto-a em medos, fujo.
Mas sei, com certeza,
Que ao longo deste caminho,
Vou encontrá-la à espera,
Ao dobrar uma esquina,
Oferecendo-me prazer
Por ter, enfim, chegado
Ao fim do meu caminho...


Gonçalo Taipa Teixeira
3 de Fevereiro de 1997

terça-feira, novembro 15, 2005

Pede-me desculpa

Pede-me desculpa, por favor
Pede-me desculpa, não sei porquê
Mas prometo que necessito...

Pede-me desculpa, por me veres
Por saberes quem sou
Esquece-me quando morrer...

Pede-me desculpa por me tocares
Chora-me a morte, desaparece!,
E deixa-me fugir...


Gonçalo Taipa Teixeira
3 de Novembro de 2001

domingo, novembro 13, 2005

Viver

Escuto o que não quero que se ouça
Mato tudo quanto já não vive
Lembro-me de tudo o que matei.
Respiro, melancólicamente
Como se suspirasse esquecido;
O sangue corre-me nas veias
Repete o percurso de anos...
Tudo funciona na prisão
Em que me encontro só.
Procuro espaço, quero correr;
Berro por guerrear
Arrancar as barras
Que me prendem a raiva...

E aqui me vejo,
Manchado pelo meu próprio sangue:
Cada vez que me mexo
Sangram-me as paredes que me prendem,
Soltam-se os lobos dos meus medos,
Morro um bocado, todos os dias
Por cada vez que tento viver...

Gonçalo Taipa Teixeira
9 de Dezembro 1996

sexta-feira, novembro 11, 2005

Durmo

Durmo, não faço nada
Sonho a vida que levo
Num pesadelo de pedra
Durmo, sem consciência
Vagueio num bosque de mil memórias
Não me perco, nem me encontro
Num berro sem melodia
Adormeço sem vontade
Neste sono dormente
Morri vezes sem conta
Não sei bem quando nem como
Durmo, cheio de dor
Dói-me a dor de quem não sente

Quero sair deste berço
Não quero que me embalem
Prefiro sarar-me a correr
Saltar de uma ponte
Num rio de lágrimas
E nadar em adrenalina
Até um mar de gargalhadas
Quero cair de um céu de angústias
Num vale de raiva aberta
Quero acordar

Gonçalo Taipa Teixeira
19 de Novembro 96

Começar

Custa, é pesado o começo
Indeciso, indefinido nascimento.
A porta, perra, de tranca fechada
Faz prever pesadelos,
Protege-nos dos lobos famintos.
O esforço de um pensamento
Gera a decisão que abre a porta:
Os lobos latem, de língua de fora,
Abanam as caudas ao sol
As escuras nuvens fugiram…
Libertação.
Mas o começo aliviado
Pode ser uma escada rolante
Ou o poço sem fundo
De uma desilusão…

Gonçalo Taipa Teixeira
21 de Abril de 2005