sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Mudar

Talvez um dia o Mundo mude.
Que quero eu que mude?
Sem um dia de escuro nevoeiro
O azul do céu perde o brilho.
O vento sopra tanto pelo vale
Como pela vertigem do cume,
Assim como a longa planície
Se torna um fundo tormento.

Que quero eu que mude?...
Talvez o meu olhar seco,
De fraca esperança, teimosa.
A insistência da Lua fria
Que lacrimeja tristezas dos outros
Num longo choro que não é meu.
Pedi as tristezas emprestadas
Para que as minhas esmoreçam...

Talvez um dia o Mundo mude...
Talvez... talvez este tenha piada!

Gonçalo Taipa Teixeira
16 de Novembro de 2003

sábado, fevereiro 11, 2006

Alentejo dos barrancos

A planície afasta-se do Guadiana
Amontoa-se à beira-rio
Em ondas ralas ou rochosas.
Montados de brancas casas
Semeiam sinos e sinetas
Que balem num choro insistente.
Alguns cabeços penteados
Abrem caminho entre as árvores
Desgrenhadas, algumas desusadas.
As pedras rebolam encosta acima,
Afloram aos pés das ribeiras
Que se perdem pelos barrancos apertados,
Acamados pelos latidos dos cães.
As estradas, de terra, reclamam,
Chamam a si o abandono;
Abrem alas ao desaforo motorizado
Arrastam, lentamente, o conforto...
E é neste alentejo dos barrancos
Que eu choro e espero.

Gonçalo Taipa Teixeira
Mértola, 17 de Novembro de 2003

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Apodrece

Inerte, esgotado.
Músculo outrora teso,
Escapou à vontade viva
Do meu cérebro sem alma.
Olhos baços, sem côr,
Sem mãos que os limpem,
Agora que para nada servem.
Memórias perdidas, apagadas,
Sem propósito justo, inútil.
Apodrece já, a minha morte.
Nunca tardia, nem prematura.

Gonçalo Taipa Teixeira
12 de Agosto de 2005