terça-feira, janeiro 24, 2006

Fim do meu Mundo

Triste condição em que o Mundo me deixou, sem memórias de sorrisos, cheio de lágrimas secas e caladas. Sou agora o fim do Mundo, cheio de culpas pelos remorsos esquecidos na origem da minha vela. Arde em cera a chama do meu calmo desespero, como arde, furioso, o archote do meu orgulho.
É o fim do meu queixume. Deixo-te na paz possível, ó multidão de vozes que não sabem o que dizem. Nem eu... Sei só que o fim dos dias me rói por dentro, desde o meu nascimento: nunca fui eterno, nem nunca o quis.
Cale-se quem não tiver nada de mal a dizer, porque toda a gente é um santo no seu caixão, e eu não quero ser um santo. Nem santo nem diabo. Quero ser só aquele que nunca soube ser: eu.
Lembrem-se de mim. Lembrem-se só dos meus erros, porque esses sim, são úteis. São lições que de mim herdas, Mundo calado.
Diz. Podes dizer. Mas diz alto para que eu acredite, mesmo sendo mentira, que eu te fiz feliz, vida minha.
Gonçalo Taipa Teixeira
3 de Novembro de 2001

sábado, janeiro 21, 2006

Vou

Imaginem uma lua cheia
Duas chamas que me lêem
Fino frio que me beija os pés
E uma pena que me descreve.

Foi o álcool quem mo segredou
E o mar mo confirmou, sussurrou
Que a vida não me quer
Nasci, vou morrer, sofrer...

Vou sofrer, vou viver
Vou correr sem direcção
Vou-me aos cornos da vida!
E tu, vida, hás-de morrer...

Gonçalo Taipa Teixeira
3 de Novembro de 2001

domingo, janeiro 15, 2006

Talvez nunca

Queria eu saber o que esperas de ti.
Não sabes? Pelos vistos não interessa;
Não interessa o que sonhas, interessa só o que mostras;
Mas o Sol não é só o candeeiro diurno:
Antes uma gigantesca tocha
Que te autoriza a viver!

Gonçalo Taipa Teixeira
18 de Abril de 2002

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Baboseiras

Caem aos trambolhões, as ideias,
Por mastigar, como nados-mortos
A quem a vida nunca fincou o dente.
São relâmpagos que a distância cala
Sem trovão que os reconheça;
São palavras sem papel, sem ouvido,
Sem memória que as guarde.

São ideias. Baboseiras.
Sem intelectualidade que as convença,
Sem idiota que as reclame,
Nascem mudas. Ninguém as sabe.

Gonçalo Taipa Teixeira
29 de Outubro de 2004

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Noite do Porto

Lua do Porto
Vem beijar a noite
Que não me deixa dormir

Noite do Porto
Faz fugir o dia
Que não me deixa sonhar

Enquanto o Sol se deita
Acendem-se as luzes nas ruas
Sombras chinesas nos passeios
Procuram barulho, fumo e copos
Enterrados nas curvas do Porto
Poetas de capa e batina
Cantam o sonho à Lua
Amante das sombras sem nome

Lua do Porto
Vem beijar a noite
Que não me deixa dormir

Noite do Porto
Faz fugir o dia
Que não me deixa sonhar


Enquanto vagueiam na noite
As capas traçadas em sonhos
Inventam copos e conversas
Procuram eternizar a noite
Não querem deitar os sorrisos
As lágrimas e as paixões
Reclamam os seus amores
Disfarçados nos livros sem fim

Gonçalo Taipa Teixeira
Janeiro 1998

Este texto foi musicado, sob o título "Lua do Porto", pela Vinicultuna de Biomédicas - Tinto. Pode ser ouvida, numa gravação sofrivel, no blogue da tuna.

terça-feira, janeiro 03, 2006

És tu, espelho meu?

És tu, sonho meu?
Será que me vais ajudar a sonhar?,
A fugir do alcatrão que me cerca
E me leva não sei onde,
Não sei porquê, nem se quero ir.

És tu, espelho meu?
Vais devolver-me as pérolas vividas?,
Nos tempos em que eras ingénuo;
Não sabias sorrir... reagias.
Mas a escola ensinou-te a sorrir...
Até por cima de uma lágrima.

Gonçalo Taipa Teixeira
25 de Junho de 2001 - Porto