terça-feira, agosto 28, 2007

Amanhã...?

Calor... desespero...
Lágrimas quentes riscam-me as costas
Lambem-me a testa, preguiçosas.
A sala está quente, estagnada.
Zumbem à minha volta palavras,
Números, ideias que não ouço:
Penso, só...em tudo, em quase tudo;
Leva-me daqui o ar quente que expiro
Nem sei se inspiro, se me mantenho.

Procuro, não sei, o bater do meu coração.
Descubro, ou perco, o caminho dos meus passos,
Dos meu pés descalços, não encontro as solas.
Perco a ponta dos dedos no nevoeiro negro
Cada vez que estendo o braço...
Não sei porque se fecha o presente,
Ou porque o passado se tornou distante.
E o meu olhar que se perde com os dedos...

Queria eu ficar aqui; não posso...!
Pudera eu ver o espelho (ri ou chora?)
Em que amanhã me vou olhar...

Gonçalo Taipa Teixeira
15 de Maio de 2001

quinta-feira, agosto 02, 2007

Acabou...?

São estes os frágeis caminhos que agora piso
De botas gastas, por cima de pedras já cansadas
Respiro os ares de paisagens esquecidas.
Acabou...
Acabou-se o atalho que escolhi
Cheguei ao fim, acho eu, do caminho que tomei,
Nem dos enganos que me deram me arrependo.
Acabou...
Talvez houvesse caminho mais longo e plano
Talvez outro mais divertido e fatigante
Talvez pudesse escolher melhor a levada
Talvez...
Não! Acabou? Há-de haver mais metros
Mais centímetros, quem sabe? Não sei.
Por isso não paro, mesmo que o nevoeiro venha;
Mesmo que a tabuleta mande parar estas velhas solas,
Só paro quando um anjo mas arrancar
Ou um demónio me empurrar daqui a baixo...
Acabou...?

Gonçalo Taipa Teixeira
12 de Janeiro de 2000

Trabalho em curso... Apesar da data. Ainda não estou contente... Haverá por aí alguma sugestão?

quinta-feira, julho 12, 2007

Acordar

Desço fundo nesta brisa carregada;
Leva-me o vento que Hades exala.
Quieto, inerte, rendido ao Sol,
Ao quieto desabrochar deste Inferno
Que o meu tempo engole, passivo.
Desço a pique, quero renascer,
Chamar-me Fénix e voar sob o Sol,
Mas a Lua não me leva, provoca-me.

Soterrado em estrelas alheias
Adormeço, sonâmbulo, sem sonhos.
Sou um estranho no meu destino,
No qual viajo aos empurrões.
O Mundo não me guardou lugar
E o meu coração é negro:
Sou uma sombra do meio-dia;
Encurtaram-me as asas geniais
Sou só um monte de rédeas banais.
Vou talvez dormir, a ver se acordo...


Gonçalo Taipa Teixeira
16 de Março de 2004

sábado, maio 05, 2007

Ventos incoerentes

São partidas que o vento prega
Estas que o sonho inventa,
Sonho de um qualquer guardanapo
Em que um dia me perdi;
Incoerência de um relâmpago
Que o trovão apaga, surdo.

São miragens que a Lua esbanja
E a razão afoga, indecisa,
Sem que o Sol se imponha;
Impõe-se antes a brisa, o arrepio,
De um qualquer desvio
Que o mar não corrige.

Nem partidas nem miragens.
O vento muda a Lua, traz a brisa,
Chora a escolha,
Culpa a sua ausência,
Dura...
Incoerente.

Gonçalo Taipa Teixeira
12 de Agosto de 2004

sábado, abril 21, 2007

Nostalgia

Doença que ataca quem vive
Chega de mansinho, sorrateira,
Num repente, rebenta em lembranças
Sem rede que nos apanhe o desespero
De saber que o corvo voa, teimoso,
Cada vez mais próximo do poiso final...

Gonçalo Taipa Teixeira
14 de Agosto de 2002

quarta-feira, março 14, 2007

Apodrece

Inerte, esgotado.
Músculo outrora teso,
Escapou à vontade viva
Do meu cérebro sem alma.
Olhos baços, sem côr,
Sem mãos que os limpem,
Agora que para nada servem.
Memórias perdidas, apagadas,
Sem propósito justo, inútil.
Apodrece já, a minha morte.
Nunca tardia, nem prematura.

Gonçalo Taipa Teixeira
12 de Agosto de 2005

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O fim da brisa

Cercado por conversas, estou só.
Isolo-me voluntariamente, inconsciente.
O Mundo escurece, esconde-se da razão
Que noutra hora se impunha,
Num momento de brutas estrelas
Que violentam o escuro céu maçado,
No meio da modorra do espaço vazio.

Estou só. Abandonei-me, só.
Esqueci-me de quanto vento passou
Quanto vento sopra nesta brisa,
Aponta-me os caminhos supérfluos
Que me levam todos à mesma meta,
Ao vale em que tudo parou
E onde a solidão me invade o corpo.

Gonçalo Taipa Teixeira
9 de Novembro de 2003

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

How to Love You

Pass the first brush of shoulders,
Forget the timid and elusive smiles.
Ignore the embarrassment of the introduction
Or the intrusive first stutter.
Never mind the hand-holding walks
And the bold time-consuming kisses.
These are all easily replicated
When love is young.

Beyond flesh and reaction
There’s a ballroom on every corner,
And a quick kiss behind every word.
Sharing dreams on the mountain top
Or drying tears on a silent shoulder.
One childlike smile in every look...
This is how I love you
Again, every day


Gonçalo Taipa Teixeira

(Porque hoje é dia de São Valentim)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Teu ombro

Na imagem do teu ombro
Que foge do resguardo da tua intenção,
Soas a outra razão...
Aquela que o teu querer afoga.

Descrente daquilo de que duvidas
Em dúvidas plenas de quem és.
Soas a falso, mesmo sem o seres
Mesmo sem o quereres...

Gonçalo Taipa Teixeira
23 de Junho de 2004

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sexta-feira, janeiro 26, 2007

The Balcony

Pass my parents bedroom
Out the windowed double wooden doors
I stand once again, absent minded,
Overseeing my hometown bay.

The summer sun yawns
Tilting every shadow, stretching,
Waking the late afternoon birds
On a winged chirping frenzy.

The trees whisper along with the breeze
Giggling with green and bright fireworks
As the worn yellow sunset light
Tickles through the leaves.

Sea and sky almost fuse together
As the moon darkens the sky
Reddening the clouds
With the Sun’s last brushwork.

I can still smell my mother’s flowers
And that clear chlorophyll scent
But they’ve all lost their colours;
Nothing more than vague shadows.

Gonçalo Taipa Teixeira

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domingo, janeiro 14, 2007

Será?

Será que é a morte que me pesa na ponta desta corda, e me puxa para frente, para um abismo de inevitável escuridão, eternidade presa num só momento de suspiro final...
Ou será o amor o que me arrasta e empurra aos trambolhões pelas serras verdes e imensas, de um qualquer céu recortado? Será o desejo o que me atira aos vales floridos de doce néctar, presos nas montanhas de um qualquer Deus?, cuja mão me impede de fugir do final...
São dúvidas que me enlouquecem, que me entorpecem. Não sei se sou puxado ou empurrado, se é o futuro quem me chama, ou o passado quem me persegue... sei só que duvido. Pensarei mais do que é preciso, e resposta virá sempre ao meu encontro; sempre a meu gosto...
E caio em mim num instante demorado e frio, em que me apercebo do final... sei, então, que nasci já para morrer. Quem não nasceu? Só os Deuses que brotaram da imaginação humana são eternos, porque vivem enquanto os lembramos na sua vida semi-recta: nasceram, mas não morrem!
Só eu nasci para morrer... Só não sei se me deito, ou se festejo...

Gonçalo Taipa Teixeira
12 de Setembro de 2000

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domingo, janeiro 07, 2007

Um dia

Morre agora mais um dia
Com as horas que passo em vazio.
Ideias voam; vieram e foram,
Ficam presas pela esperança de amanhã
No Sol que a Lua cheia anuncia.
São dias que se aglutinam semi-cheios
Num só dia de desespero semi-vazio.
Respiro de improviso,
Neste roteiro de fim de noite
Que não me quer desmaiar nos lençóis,
Atirar-me de encontro à almofada
E deixar-me morrer neste dia.

Gonçalo Taipa Teixeira
19 de Dezembro de 2002

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Uma rosa

Uma só rosa
Confessa o que sinto.
Olho-a com carinho,
Vejo-a num beijo teu.
Sinto o teu toque
Na seda de cada pétala,
Num quente abraço
Esqueço-me dos espinhos,
Sinto só o vermelho
Que me conduz a ti
De lábios em riste...

Uma só rosa.
Uma só Vénus.
É tudo quanto quero...
Recolho os meus sonhos,
Guardo os meus desejos
Nos lençóis vermelhos
Do cálice de uma rosa.
Mais que esta rosa
Não te posso dar.
Dou-me a mim
Nesta única rosa...

Gonçalo Taipa Teixeira
14 de Fevereiro 1997


Porque ainda só se passaram dez anos. Porque este foi o primeiro que lhe dediquei. Porque sinto saudades dela.

terça-feira, novembro 28, 2006

O palco

São tristes, os actores que marcham
Nesta farsa embriagada e sem razão
De coloridas cortinas feitas de gargalhadas
Levantadas por ilusões e sonhos caídos
Sonhos dos actores vermelhos de sangue
Num misto de fogo e de embaraço.

Sonham alto, os Homens sem medo
Sonham muito, os homens sem saber
Desiste cedo, o homem sem esperança;
Torna-se actor de cabos apertados
Preso ao mesmo palco de ébrias maneiras,
De plateia sóbria e lacerante.

Sonham baixo, os homens baixos
A quem a vida deu o palco natal:
Sem saber, nasceram actores
E num reflexo, se descobrem actores;
Esquecem o sonho e o Paraíso,
Esquecem que no palco, passa uma farsa.


Gonçalo Taipa Teixeira
03 de Outubro de 1999

domingo, novembro 12, 2006

Beijo de saudade

Se o teu beijo aqui estivesse,
A saudade seria a mesma,
Pois num momento de olhos fechados
A vertigem da tua voz
Faz-me gritar que te amo.

Gonçalo Taipa Teixeira
28 de Dezembro de 2005

(Porque hoje é o aniversário dela)