domingo, dezembro 25, 2005

Fosse eu um anjo

Desci às profundezas do inferno.
Desci. Sujeitei-me ao juízo dos outros,
Nem sequer levei as asas de água
Que já me levaram de onda em onda.
Foi o vento quem me tirou o ar;
Perco o espaço em volta, inerte,
Só o fogo me consome, já morto.

Esta ampola que me controla
Não é de areia, é de água:
Escorre-me pelos dedos; nem um grão.

Fosse eu um anjo...
O vento não me roubaria o fôlego.
Mas não passo de uma alma penada,
Só, sem sequer a companhia da morte.

Gonçalo Taipa Teixeira
16 de Julho de 2003